10 julho 2007

BICHOS I - Clarice Lispector

" Ter uma CORUJA nunca me ocorreria. Mas uma amiguinha minha achou por terra na mata de Santa Tereza um filhote de coruja, todo sozinho, à míngua de mãe. Levou-o para casa, aconchegou-o, alimentou-o, dava-lhe murmúrios, terminou descobrindo que ele gostava de carne crua. Quando ficou forte era de se esperar que fugisse imediatamente mas demorou a ir em busca do próprio destino, e de reunir-se aos de sua raça: é que se afeiçoara essa estranha ava à minha amiguinha. Relutou muito, via-se: afastava-se um pouco e logo voltava. Até que num arranco, como se estivesse em luta consigo mesmo, libertou-se voando para as profundezas do mundo."

Nenhum comentário: