19 junho 2008

Definições

A vida que me deram não se resume a uma lista de compras, objetos de desejo, livros que não li, 100 roteiros exóticos. O futuro que eu espero não cabe numa lista de desejos, ou numa "wish list" (para os que têm a insuportável necessidade de acrescentar termos estrangeiros nesta, já tão complicada, língua portuguesa).
Estou certa de que, em algum lugar que eu ainda não encontrei, se encondem desejos que eu ainda não descobri. Livros ainda não escritos...destinos ainda não desbravados. Quem sabe atrás do fundo do guarda-roupa (né amigo "Pavão")?
Minha família não é simplesmente a primeira comunidade de que fiz parte - como me ensinaram em Educação Moral e Cívica (que tipo de coisa se ensina numa matéria com esse nome?), não, minha família é a minha família. É esse conjunto heterôgeneo de pessoas que não parecem ser nem do mesmo planeta, quem dirá da mesma família. Esse conjunto estranho, barulhento, engraçado e triste do qual faço parte. O termo que define esta família? Não, não sei.
Meus amigos não são pessoas que, simplesmente, cruzaram meu caminho em algum instante, não, são meus amigos. Amigos conquistados e cultivados a custa de dedicação, carinho e muitas vezes tolerância. Como são? O que os define? Não, não sei.
Eu sei que não sou o resultado das características determinadas por pouco mais de 20.000 genes, não, sou muito mais. Sou mais que um conjunto de cromossomos, tecidos, células nervosas, cabelos e dentes. Sou um pouco fruto de outros tempos e de outros mundos talvez. Talvez minha definição esteja num termo ainda inédito. Talvez minha definição ainda não esteja no Aurélio, no Houaiss ou na Wikipedia..talvez eu ainda nem exista de fato. Talvez eu nunca tenha existido.
Ainda faltam termos para todas as minhas definições. Ainda faltam respostas...e talvez ainda faltem muitas perguntas também.
Ainda faltam listas para todos os desejos que eu tenho...ainda preciso encontrar em algum lugar, os desejo que ainda não descobri que tenho.
Talvez minha vida seja simplesmente tomar café da manhã com Maria, redescobrir nos olhos do homem o amor de todo dia. Talvez seja a descoberta da música até então desconhecida. Talvez seja a emoção de um quadro que ainda não foi pintado...nem foi desejado. Talvez esteja no meu presente. Talvez tenha ficado no meu passado.
Talvez minha vida seja simplesmente isso...e eu que talvez ainda não tenha entendido.

14 comentários:

Sabrina disse...

ou talvez "simplesmente isso" possa ser "maravilhosamente tudo o que tennho".
será?
beijos querida!
:)

Camilla Tebet disse...

Lindo texto! E tudo isso quer dizer que vc ainda tem muito o que descobrir, não é? E que bom! Já pensou se já tivesses todas essas respostas,que chata seria a vida?
A mulher, que morreu no meu texto e renasceu, renasceu simplesmente.. não tem como busca-la.. ela nasce diferente eu acho. NAsce assim, como vc descreveu.. buscando todas essas coisas que vc está.. é assim. Eu adorei. E me lembrei de tudo que ainda não vi e fiquei mais animada.. quanta coisa ainda não descobri.. tenho muito o que fazer então.
Obrigado por me lembrar disso.
Um beijo grande pra vc.

Anônimo disse...

"Estou certa de que, em algum lugar que eu ainda não encontrei, se encondem desejos que eu ainda não descobri. Livros ainda não escritos...destinos ainda não desbravados"

Nossa, me senti "definida" nesse texto Mariah.

Adorei!

Bjs.

Carol Rodrigues disse...

"Mariah, Mariah, é um dom" - na verdade deveria ser: "tem um dom".
Vai saber o que a vida pode ser? Vai saber o que será? Talvez seja simples mesmo - nós 'que temos mania de complicar as coisas!
Texto lindo, lindo, lindo!
Gostinho de quero mais
=D

Pedro Favaro disse...

O interessante é que ao procurar COM FORÇA o que realmente vale apena agente só está gastando uma enorme energia até perceber que o que realmente vale a pena está do nosso lado.
Normal.


Li seu texto umas 5 vezes!Gostei MUITO!
BJ

Artsy-Fartsy disse...

Mariah, estou aqui aparvalhado, boquiaberto, tartamudeando alguns sons guturais de espanto e contemplação.
Você psicografou este texto, vamos, fale a verdade. Baixou um heterônimo? Saiu do corpo e escreveu só com a alma, tendo segurado a caneta com uma porção de ectoplasma?
Isto está simplesmente ma-ra-vi-lho-so! Adorei. Adorei.
Abraços vigorosos!

Anônimo disse...

"...Sou um pouco fruto de outros tempos e de outros mundos talvez..."

Sim querida, e por ser tudo isso sua lista de desejos não está completa, muito ainda para receber e dar.
lindo dia, flor
beijos

Ana Luisa disse...

Oi Mariah!
Poxa, tenho pensado nisso...

"O futuro que eu espero não cabe numa lista de desejos"

Não sei se espero demais de mim mesma, ou se minha visão está distorcida com relação ao que esperar do mundo.

Bj.

Anônimo disse...

Que texto lindo!Altamente filosófico,altamente forte,pra se pensar,rever conceitos mesmo!Lindo!Meus parabéns! bjosss

Flávia disse...

Eu acredito que a nossa vida é sempre simplesmente isso. Não no sentido pejorativo so simples, mas no sentido de que passamos muito tempo tentando entender o que deve ser vivido. Há coisas, situações e sentimentos que são melhor compreendidos quando a gente mergulha neles de cabeça, e quando conseguimos nos livrar dessa tendência atávica que temos para complicar as coisas.

E esse guarda-roupa do Pavón existe. Ah, existe. A gente só precisa se lembrar onde ele está guardadinho... ;)

Beijos!

Anônimo disse...

Revolta contra definições e simplicidades ou só literatura?

Legal :)

Tina disse...

Oi Mariah!

A gente é um pouco de tudo. E de tudo um nada...

Gostei do texto, muito bom.

beijo grande e obrigada pelo carinho,

SomeOne disse...

É incrível ver que não sou o único que ainda me sinto fora de mim mesmo, sem saber todas as repostas e todas as perguntas, sem saber o que realmente me define e me destaca dentre os demais...

Adorei seu Blog *.*

Vanessa disse...

OI!
Bonito.
Preferivel ser voluvel que limitado a uma definição...
Sobre o audio book, não conheço nenhum lugar que tenha variedade de titulos.