18 agosto 2008

"Isso tudo não chegava a formar uma situação para o casal. Quer dizer, algo que cada um pudesse contar mesmo a si próprio na hora em que cada um pudesse contar mesmo a si próprio na hora em que cada um se virava na cama para um lado e, por um segundo antes de dormir, ficava de olhos abertor. E pessoas precisam tanto poder contar a história delas mesmas. Eles não tinham o que contar. Com um suspiro de conforto, fechavam os olhos e dormiam agitados. E quando faziam o balanço de suas vidas, nem ao menos podiam nele incluir essa tentativa de viver mais intensamente, e descontá-la, como em impostos de renda. ............ Talvez apenas devido à passagem insistente do tempo tudo isso começava, porém, a se tornar diário, diário, diário. Às vezes arfante. (Tanto o homem como a mulher já tinham iniciado a idade cr[itica.) Eles abriam as janelas e diziam que fazia muito calor. Sem que vivessem propriamente no tédio, era como se nunca lhes mandassem notícias. O tédio, aliás, fazia parte de uma vida de sentimentos honestos........................... Mas enfim, como isso tudo não lhes era compreensível, e achava-se muitos e muitos pontos acima deles, e se fosse expresso em palavras eles não o reconheceriam - tudo isso, reunido e considerado já como passado, assemelhava-se à vida irremediável. À qual eles se submetiam com um silêncio de multidão e com o ar um puco magoado que têm os homens de boa vontade. Assemelha-se à vida irremediável para a qual Deus nos quis." (Os obedientes - Felicidade Clandestina - Clarice Lispector)

5 comentários:

Tina disse...

Oi Mariah!

Quando o tédio fica compreensível, o amor já desabou...

beijo grande e boa semana,

Anônimo disse...

Preciso começar a ler logo esse livro. Tô achando ótimas essas passagens que você tem postado.

Juan Moravagine Carneiro disse...

" Não há o que fazer quando até os passarinhos estão desolados...hoje quando olho pela janela, os passarinhos estão desolados"

J.K.

Soraya Medeiros disse...

Não aceite a "vida irremediável", não coloque tudo no piloto automático, assuma os remos. Quando penso que os dias estão todos iguais eu olho no espelho e vejo que quem está igual sou eu, então, começo a partir daquele momento a mudar alguma coisa... ponho um scarpin vermelho (ou outra roupa ou acessório que quase nunca uso), tento usar outro caminho para ir ao trabalho, aprender uma palavra nova ou colocar mais um item na minha lista de metas. Viver pode ser inspirador!

Pedro Favaro disse...

"O tédio, aliás, fazia parte de uma vida de sentimentos honestos"

PUTA FRASE!
Adoro isso aqui!